domingo, 21 de outubro de 2018

Os estágios.


Qual é o sentido de participar de um estágio? Primeiro de tudo, pode parecer uma coisa estranha para um koryu, uma escola onde o treino é feito num pequeno grupo e directamente em contacto com o professor. Mas, ao contrário do Japão pré-moderno, onde as escolas estavam quase todas no arquipélago, às vezes geograficamente concentradas (como em Edo / Tokyo), a difusão internacional alongou as distâncias e estendeu esses elos.
Não é incomum que o professor ou o director da escola morem em outro país e o aprendizado exija que se desloque para aprender com ele. Na nossa escola, os estágios são essenciais se quisermos manter uma ligação directa com o Kaicho, o Sensei Threadgill - e para um koryu esse é um ponto importante para cada aluno. Isso também foi o que Morihei Ueshiba fez quando convidou seu professor Sokaku Takeda para sua casa para aprender com outros estudantes - hoje chamamos isso de estágio privado.
Primeiro de tudo, os estágios são essenciais? Na minha opinião, sim e não. Não, porque você pode muito bem aprender tudo o que você deve saber sobre seu professor diariamente, não precisa segui-lo além do estágio (ou ir ver outra pessoa antes de chegar ao nível dele). O estágio não substitui a prática diária.
Ok, isso é para a teoria. Se alguém aprende técnicas marciais é para aplicá-las em diferentes contextos e em qualquer tipo de oponente. A aplicação de técnicas hoje resume-se ao tatami, uma forma de confrontar outros parceiros - e, portanto, outras reacções - é participar dos cursos - especialmente quando eles são públicos. Aprendemos a gerir situações fora do nosso dojo habitual, da nossa zona de conforto. Quando um estágio é público com praticantes de outras disciplinas, também é possível observar como o nosso professor implementa os princípios da escola em um ambiente ligeiramente diferente. Tudo isso contribui para a nossa capacidade de nos adaptarmos ao inesperado combate, aplicando os princípios e estratégias da escola estudada.
Qual é o interesse dos estágios? Eu comecei a responder mais cedo, mas vamos adicionar algumas coisas a ele. O estágio é frequentemente um período de treino mais concentrado. Enquanto no dojo podemos praticar 2, 4, 6h por semana... O curso de um fim-de-semana pode representar mais de 12 horas de treino. Se eu o comparar a 4 horas de prática por semana, o estágio é então o equivalente a 3 semanas de treino.
Outro aspecto do estágio é sua continuidade ao longo de um determinado período de tempo (um fim de semana, por exemplo). Pedagogicamente, o professor pode desenvolver um tema mais longo ou aprofundar um ponto particular em que o curso de 1h, 1h30 ou 2h pode atingir um limite. É claro que se o professor se contentar em fazer o equivalente a um "curso de longo prazo", o estágio perde parte de seu interesse - ele só adicionará horas extras de treino.
Vamos também abordar um ponto fundamental sobre todas as artes marciais (budo, koryu, prática desportiva...), mas também toda a actividade humana. Estágios são formas para evitar a síndrome de "Big fish in a small pond". Preciso esclarecer? Quantos de nós já conhecemos o dojo de alguma disciplina em que o professor era visto como um praticante excepcional irradiando em um pequeno pátio, considerando que possuía uma qualidade técnica incomensurável com os "outros"? Há um gostinho da "aldeia gaulesa": sabemos, isolados, os outros estão enganados. É muito mais fácil parecer competente se o acesso a pessoas competentes é restrito: um peixe grande em um pequeno lago. Estágios têm pelo menos o benefício de oferecer uma perspectiva mais ampla.
 Um estágio koryu também tem duas outras funções aos meus olhos:
Quando o chefe de uma escola tem todo o conhecimento da escola e não está acessível em uma base diária (não skype não é acesso a esse conhecimento! Você precisa de um contacto físico e um feedback físico, além de verbalização), o estágio com essa pessoa alimenta a sua prática por várias semanas ou meses. É um processo que pode ser difícil de implementar, e claramente não é feito para todos tanto que pede o investimento, mas bem usado, torna-se terrivelmente eficaz. É nesse princípio que nossos grupos de estudo funcionam, mas também a busca de aprendizado quando alguém já é instrutor de um nível específico (o shoden para mim). Sem esses cursos, eu estagnaria no mesmo nível...
Finalmente, o estágio também é um importante vector social entre pessoas que estão geograficamente distantes. E se uma escola não é um clube de encontros, num grupo koryu é de particular importância. É nessas horas que a informação sobre o grupo e a escola se espalha mais, mas também as tradições não técnicas da escola. Conhecer os outros membros da escola, especialmente os sempais actuais e passados, trabalhar junto ao Sensei e ter acesso à história da escola e de seus antigos mestres, é justamente participar de todo um lado da transmissão da escola…o conhecimento e as tradições de uma escola antiga.

Bons estágios para todos.

- Nicholas Delalondre, Responsável do Dojo de França da Takamura Shindo Yoshin Ryu, no seu blogue:
https://surlespasdemars.wordpress.com

quinta-feira, 18 de outubro de 2018


OS PEQUENOS GRUPOS

O que é a transmissão (e sobrevivência) de uma koryu? Recentemente, a página do facebook do dojo excedeu 300 "likes", uma noção bastante moderna de uma popularidade relativa (e virtual). Em suma, 300 não é nada no facebook, mas já é 30 vezes mais do que o número de membros do dojo em questão. Sim, para quem não sabe, é um tamanho já consistente para o dojo de um instrutor.
Não se surpreenda se houver um ambiente familiar entre seus membros: todos se conhecem e compartilham momentos que vão além do tatami. É uma relação séria e descontraída. Todo mundo sabe o seu lugar lá, normalmente não há necessidade de uma disciplina do tipo militar (ou neo-militar), simplesmente uma etiqueta integrada de forma natural.
Não, a transmissão numa koryu não dá relevância a números. Primeiro - e devemos ser honestos - estas não são práticas que atraem o público em geral: é preciso perseverança, dedicação e não esperar por recompensas pessoais (cinturão, troféu, status especial...). Desculpem dizer, mas as artes marciais que são muitas vezes a prerrogativa da luta contra o ego, incluem um número de importantes egocêntricos... (Primeiro, eu não acredito neste objectivo, e segundo, o aspecto piramidal das artes marciais permite muitos excessos). Por outro lado, a koryu requer um aprendizado pessoal directo com o professor e, portanto, não é adequado para o aprendizado em massa (vocês conhecem as aulas em que os alunos alinhados, repetem constantemente os mesmos movimentos de forma síncrona). É muito difícil para essas escolas fazer um grande estágio em massa que beneficie a todos.
Além de explicações e repetição, parte da transmissão é Shin den Shin. Este termo japonês pode ser traduzido como "coração para coração" ou “alma para alma”. Eu retomaria sem corar a definição da wikipedia: "uma forma de relacionamento interpessoal através do entendimento mútuo tácito". E esse tipo de transmissão só pode ser posto em prática por um contacto recorrente e pessoal com o professor até que a comunicação possa ser não-verbal (desenvolvendo assim o sentimento e a percepção).
Então, qual é a possibilidade de sobrevivência de uma koryu? Talvez um punhado de entusiastas em diferentes partes do mundo que desejam fazer essas escolas viverem, aprendam as tradições e passem-nas para as pessoas com as mesmas motivações.

-Nicholas Delalondre, Responsável do Dojo de França da Takamura Ha Shindo Yoshin Ryu, no seu blogue:
Https://surlespasdemars.wordpress.com

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Entrevista com Threadgill Sensei

Deixo aqui o link para o site Aikido Journal, a cujo director, Threadgill Sensei, concedeu uma entrevista, na qual abordou temas gerais acerca das Koryu e da Takamura Ha Shindo Yoshin Ryu em particular. Vale todos os minutos envolvidos na sua leitura!


 www.aikidojournal.com/public/interview-with-toby-threadgill-menkyo-kaiden-takamura-ha-shindo-yoshin-ryu/

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Reigi...o que é?

Reigi é mais facilmente traduzido como “etiqueta” ou “protocolo”. Para o observador menos esclarecido, o reigi parece ser uma serie de acções rituais muitas vezes incluindo vocalizações que podem ter pouca relação óbvia com a tarefa primaria que se persegue. Os elementos físicos observáveis e mais simples do reigi são a versão omote ou manifestação superficial. Contudo, reigi correcto tem apenas uma ligação parcial com a versão omote. Em vez disso o reigi correcto é um entrelaçado entre a versão omote e ura, ou o que jaz para alem do que é visível ao olhar. Reigi não é tanto praticado como é vivenciado. Na sua forma mais elevada representa a fusão da mente, corpo e espírito. A sua essência existe naquele pequeno intervalo da nossa alma que muitas vezes ilude a descrição temporal. Reigi no budo (artes marciais) pode aos olhos de um ocidental parecer um fenómeno curioso à primeira vista, mas uma inspecção mais profunda é necessária para apreender a sua significância. Algumas pessoas perguntam “O que tem todo este ritual a ver com aprender a lutar?” A minha resposta é, tudo. O primeiro proposito do reigi no Budo é colocar a mente num estado mais propicio de forma a que possa ser ensinada a aprender de forma mais eficiente. Mas lembrem-se isto é apenas o inicio. Colocado num conceito occidental familiar, reigi é o Alfa e o Omega da aprendizagem. Artes Marciais Japonesas verdadeiras não se podem divorciar do reigi e permanecem fieis às suas raizes Japonesas. Budo deve começar e terminar sempre com reigi, pois sem reigi, Budo nunca poderá ser verdadeiro Budo. O propósito do Reigi Durante o treino de um aluno, reigi desempenha propósitos importantes e progressivamente mais profundos. É uma parte inseparável do Shugyo ou treino mental austero. É usado para testar a vontade e capacidade do aluno de entregar o seu ego à destruição. Desta forma, torna-se a fundação sobre a qual se forja a alma de um guerreiro. Mas claro que na verdade não destruímos o ego de um aluno. Em vez disso almejamos polir e moldar o ego do estudante através da adversidade, desfio e reflexão. O aluno após um tempo indeterminado de avaliação pode tornar-se um aluno formal “deshi” ou discípulo demonstrando a sua vontade em aceitar este desafio com um coração puro. Na Takamura Ha Shindo Yoshin Ryu ele afirma esta decisão através do reigi de fazer formalmente keppan-sho ou “Compromisso de sangue”. Aceitação ou rejeição do reigi correcto pode ser usada para expor a dedicação ou deficiências para com um Sensei. O aluno que questiona constantemente ou recusa abraçar o reigi não é adequado para o treino continuado porque em ultima analise ele vê a sua própria opinião e desejos como superiores aos objectivos do ryu. Cego pela sua própria auto absorção, um aluno que desrespeita o reigi é incapaz de aceitar o facto de que a sua responsabilidade como aluno formal (deshi) é antes de mais para com o ryu e com o beneficio de outros antes de si próprio. Para o deshi formal, reigi é algo livre para o impregnar com as suas lições mais importantes. As experiencias ganhas através do reigi do Budo e a execução Tecnica do ryu fundem-se numa expressão singular. Esta combinação de experiencias transformam a alma. A sensibilidade aumentada que resulta da continuada prática de shugyo permite ao deshi entrar no seu próprio coração de uma forma nunca antes experimentada. É uma espécie de epifania para muitos. Responsabilidade para com o ryu, para com os seus seniores, e para com a humanidade de uma forma mais geral tornam-se uma prioridades face aos seus desejos egoístas. Desta forma um espírito benevolente é formado e a sabedoria está livre para florir. Conceitos abstractos de Vida e Morte colocam a existência do Deshi no seu contexto natural próprio. A transcendência do mundo do espírito apresenta-se pela primeira vez. Ao longo dos muitos anos de forja o deshi torna-se uno com este mundo e com o outro mundo onde os espíritos dos antepassados residem. Sem esta sensibilidade e aumento de percepção do seu lugar no mundo, um artista marcial pode perder o seu rumo e desenvolver um código moral distorcido, um código que justifique a violência racionalizada e auto indulgencia conduzida pelo ego. A sabedoria ganha pelo correcto reigi é protecção dos Kami ou “divindades” contra o mal com o qual a humanidade se tem debatido durante gerações. Esse mal é violência malévola, um caminho que tem sido uma praga da nossa existência humana. O que é falso Reigi? Algumas pessoas colocaram-me a seguinte questão “O reigi alguma vez muda?” A resposta é que, é claro que muda mas de formas muito subtis e deliberadas. Uma verdade universal é a que todas as coisas tem de se adaptar para permanecerem relevantes. Reigi não existe de si nem para si. É uma manifestação do propósito para que foi criado. Se o reigi não evolui ou se deixa de ter uma ligação com o propósito para o qual foi criado vai ficar obsoleto e inútil. Mudar apenas por mudar contudo está pejado de risco. Reigi deve permanecer fiel ao seu propósito de ser uma manifestação de oferta divina para beneficio da humanidade. Vou apresentar um exemplo de uma mudança do nosso reigi que considero que foi apropriada. Esta mudança foi instituída nas nossas organizações ocidentais como resposta a um conflito de língua e uso. No Japão, um sensei é sempre referido como “sensei”. No tapete ou fora do tapete, um sensei é “sensei”. Mas, no ocidente referir-se constantemente ao professor em publico como “sensei” pareceria para muitos uma paranóia e daria a impressão incorrecta aqueles não familiarizados com a forma Japonesa de utilização do termo. Exacerbar este problema é a tendência de muitos ocidentais no sentido de sobre-enfatizarem o omote do reigi. Referirmo-nos constantemente a alguém em publico como sensei apenas iria encorajar esta sobre-enfatização conduzindo a mais interpretações incorrectas do seu uso correcto. Muitas vezes em resposta a estes mal entendidos, aparece o falso ou impróprio reigi. Para combater a propagação deste fenómeno eu requeri que os alunos apenas utilizassem formalidades Japonesas no Dojo ou em conversas privadas. Em publico prefiro que me tratem apenas por “Sr.”. Isto é um reigi muito mais apropriado no ocidente pois é muito mais facilmente entendido e apreciado pelo público em geral. Portanto, isto é uma alteração ao estrito reigi que é praticado na maioria do Budo no Japão, mas esta mudança não é perniciosa. Existe uma razão importante e valiosa a conduzir esta alteração Como outro exemplo de falso ou impróprio reigi, considerem a palavra Shihan (Instrutor Chefe). Nalguns círculos de Budo ocidentais Shihan estão a multiplicar-se como coelhos. O significado do termo está agora completamente vulgarizado e mal interpretado. Os chamados “mestres” do Budo estão a brotar das pedras em todo o lado! Até já vi um indivíduo promover-se como um “dai-shihan”. Que fartote de riso tive com essa absurdidade! Acho que na sua ignorância ele pensa que Dai-Shihan significa “grande mestre”, o que quer que isso seja suposto ser. Estou á espera de ver a seguir “grandes-grandes-mestres”, ou “Dai Dai Shihan”. No seu pior, o falso reigui não é apenas uma incompreensão mas é manifestamente fraudulento. Falso reigi como este é normalmente inventado por um instrutor inferior para promover uma imagem de legitimidade ou excelência que na verdade não existe. Para aqueles iniciados em Budo correcto este tipo de auto-engrandecimento bizarro é todo facilmente óbvio. Mas para a pessoa comum que não está familiarizada com o reigi correcto em budo este tipo de etiqueta fajuda pode danificar a imagem que a maioria das pessoas tem de todo o Budo Genuíno. Termos específicos de Budo como Shihan simplesmente não são apropriados para utilização comum no ocidente porque todas as traduções estarão, ao fim e ao cabo, imprecisas. No caso do uso do termo “Shihan”, a versão omote foi basicamente traduzida sem a sua versão ura. No uso comum ocidental não existe nenhum conceito similar ao ura que vem agregado à palavra “mestre”. O ura fica perdido na tradução e sem o ura, falso ou improprio reigi inevitavelmente preenchem o vazio. O Ênfase impróprio do Reigi Outra armadilha comummente associada com reigi demonstra a importância de o manter na perspectiva correcta. Foi uma vez afirmado por um budoka Americano de reputação algo infame por se armar em “muito Japonês” que o meu reigi era demasiado informal e descontraído para ser correcto. Isto tem sido fonte de diversão sem fim para mim e alguns dos meus amigos. Lembro constantemente aqueles que ensino que o reigi apesar de ter uma manifestação física, ou kata importante, é predominantemente um exercício interno. Reigi executado correctamente deve parecer tão descontraído tal como seja uma expressão de segunda natureza. Reigi correcto deve ser sempre uma meditação em movimento. No dojo do instrutor mencionado acima observei reigi que se tinha tornado tão estático e demasiado “omote” que simplesmente não existia “ura”. Onde não existe ura, não existe Budo verdadeiro. Este instrutor sobre-enfatizou o Reigi até ao ponto onde o seu dojo é um dojo de “reigi omote” em vez de Budo. Também verifiquei isto recentemente no Japão. Parece que este fenómeno não está limitado a países estrangeiros da minha terra natal. O Oposto também pode ser visto, mas usualmente apenas no Japão. O reigi lá pode tornar-se algo que se faz “de cor”. Totalmente desviado da sua dimensão espiritual ou propósito. Nesta manifestação tornou-se uma espécie de reigi despreocupado sem qualquer omote ou ura correcto. Essencialmente tornou-se nada, nem sequer a casca do reigi. Apesar de toda a importância dada ao reigi tem de ser sublinhado que o reigi não é um fim em si mesmo. Tem um papel concreto e importante e essa função no dojo é a de ajudar no treino do corpo e da alma na busca do Budo. Reigi lembra-nos das nossas origens divinas e da nossa responsabilidade para com aqueles que nos transmitiram o Budo. Mas o reigi não é Kami ele mesmo. Sobre ou Sub enfatizar o reigi estropia a alma de um dojo e consequentemente, os seus alunos (deshi). Uma verdade universal é de que equilíbrio adequado é necessário em todas as coisas. O equilíbrio entre corpo e mente. O equilíbrio entre movimento e imobilidade. O equilíbrio entre o físico e o mental. Equilíbrio é a grande verdade que todos os budokas verdadeiros ambicionam alcançar diariamente. Reigi pode funcionar como uma ferramenta preciosa para o ensino do equilíbrio e harmonia espiritual mas o reigi no budo também pode ser negligenciado ou usado de forma errada. Sem a influência de reigi correcto, o budo é como um barco desgovernado à deriva numa tempestade, o seu destino é incerto


Yukio Takamura, 1982

Takamura Ha Shindo Yoshin Ryu - As origens.

A Shindo Yoshin-ryu foi fundada por um representante do clã Tokugawa, Katsunosuke Matsuoka em 1868. Matsuoka Sensei estudou Yoshin-ryu, Hokushin Itto-ryu, Jikishinkage-ryu, Tenjin Shinyo-ryu jujutsu e Hozoin-ryu. Baseou a Shindo Yoshin-ryu na Yoshin-ryu, mas também adicionou conceitos das outras escolas. Ele acreditava que os conceitos de defesa passiva da Yoshin-ryu eram incompletos e necessitavam de equilíbrio e heiho positivo ou tácticas. Os caracteres Japoneses originais de Shindo Yoshin-ryu eram "novo espírito do salgueiro," mas em breve foram mudados para "espírito sagrado do salgueiro" O curriculum original da Shindo Yoshin-ryu poderia mais correctamente ser considerado um bujutsu que um jujutsu pois muitas técnicas de armas estão incluídas no curriculum (mokuroku). Contudo, a popularidade do judo e o pouco interesse no treino de armas resultou em que muita dessa influencia fosse perdida no inicio do século XX nas principais linhas de tradições Marciais. Muitas das raízes da nossa escola começam nos anos iniciais. Meu avô Shigeta Ohbata era originalmente um estudante de Yoshin-ryu com Hikosuke Totsuka tal como Matsuoka. Totsuka era evidentemente fantástico. Meu avô treinou no seu Dojo antes de conhecer Matsuoka Sensei. No seu tempo, Totsuka era considerado um adversário à altura de qualquer um. Absolutamente um técnico brilhante. No seu pico, dizia-se que era imbatível fosse por quem fosse inclusive por adversários muito maiores que ele. Apesar do grande respeito do meu avô por Totsuka, ele saiu da Yoshin-ryu encontrando depois um estudante de Matsuoka chamado Ishijima. Shigeta eventualmente acabou por receber um menkyo kaiden (licença de ensino) em Shindo Yoshin-ryu por volta de 1895. Matsuoka e Shigeta ambos treinaram Jikishinkage-ryu com Kenkichi Sakakibara por isso desenvolveram uma amizade próxima. Meu Avô não tinha intenção de começar a sua própria escola mas fê-lo efectivamente no inicio do século 20. Esta ficou conhecida como a escola Ohbata. Ele construiu o seu próprio Dojo com a ajuda de um amigo de seu nome Hasegawa em Asakusa no distrito de Tokyo. A Shindo Yoshin-ryu é bastante conhecida no mundo do Karate Japonês porque o Hironori Ohtsuka fundador da Wado-Ryu Jujutsu Kenpo (karate) recebeu um menkyo kaiden em Shindo Yoshin Ryu. No entanto existe uma concepção errada comum entre a maioria dos praticantes de Wado-Ryu, a de que Hironori Ohtsuka tornou-se o grande mestre da Shindo Yoshin Ryu. Embora tenha realmente recebido um menkyo kaiden em Shindo Yoshin Ryu, também vários outros o receberam resultando em diversas escolas. A linha original (linha Matsuoka) sucedeu através de Motoyoshi Saruse para Tatsuo Matsuoka e ainda existe hoje no Japão.

 Excerto da entrevista concedida por Yukioshi Takamura Sensei/Aikido Journal - Outono de 1999

 http://www.tsyr.bushikai.eu

segunda-feira, 7 de março de 2016

Novo Caminho...Mesmo Destino!

Embora este espaço tenha sido criado numa outra época, o propósito mantém-se. Diz o ditado que na mudança dos tempos, se mudam também as vontades...nem sempre acontece assim! No meu caso, essa vontade mantém-se inalterável, apesar da incontornável passagem dos anos.
Estudar os preceitos de uma Koryu (Escola clássica de artes militares japonesas) e viver no seu seio, foi sempre um sonho perseguido ao longo da vida. A seu tempo encontrei aquela com a qual me identifiquei. Após várias conversações à distância e uma entrevista presencial, eis que me foi concedida a oportunidade de ser aceite como membro, ainda que, em regime probatório.
O caminho faz-se caminhando e serenamente seguirei na senda da tradição!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Valores; Princípios...Será que existem?

Há alturas na vida em que a confusão de sentimentos abala as estruturas do pensamento lógico e racional. A forte corrente que nos empurra para atitudes menos ponderadas é forte e, por vezes, inevitável. Procuramos muitas vezes o consolo num acto irreflectido, que vai provocar dor em alguém que não merece, alguém que já sofre demais com a sua própria condição existencial. É esta natureza egocêntrica que domina a nossa mente...

Na hora da decisão, tomamos a direcção mais fácil, aquela que se apresenta como a mais consoladora no imediato, mesmo que tenhamos a certeza de que iremos saír a perder, por vezes de forma irreversível. Atropelamos inexoravelmente a confiança daqueles que um dia já passaram descalços por cima do copo partido em nossa defesa e que, cegamente confiam na nossa integridade moral.
É desconcertante o quão baixo descemos e, então é perceptível a insignificância dos nossos (hipotéticos) valores morais.
Se, antecipadamente, sabemos que nos vamos dar mal, que vamos ferir alguém...então porque seguimos em frente, até ao abismo? Não servirá a razão, como freio contra um movimento desvairado rumo à angústia e ao remorso?
Assim não é...infelizmente!